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Gabriel García Márquez - Em agosto nos vemos

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Gabriel García Márquez - Em agosto nos vemos - Editora Record - 132 Páginas - Tradução: Eric Nepomuceno - Ilustração da capa: David de las Heras - Lançamento: 2024. Em um dos eventos editoriais mais aguardados do ano, foi lançado simultaneamente em 41 idiomas e 70 países o romance póstumo de Gabriel García Márquez, "Em agosto nos vemos". Segundo o prefácio assinado pelos filhos do autor, Rodrigo e Gonzalo García Barcha, o livro havia sido descartado por Gabo mas, ainda assim, dez anos após a sua morte, os irmãos decidiram solicitar a  Cristóbal Pera,  editor espanhol, que revisasse os originais e prosseguisse com a publicação. A decisão dos descendentes do Prêmio Nobel de Literatura colombiano  e criador do "realismo mágico" que, para o bem e para o mal, passou a significar um sinônimo de literatura latino-americana,   reacende a polêmica sobre o direito dos herdeiros publicarem obras não autorizadas pelos autores em vida. O romance pode ser considerado como o fecha

B. Traven - O navio da morte

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B. Traven - O navio da morte - Editora 7Letras - Selo Imprimatur / Quimera - 320 Páginas - Tradução: Érica Gonçalves Ignacio de Castro - Posfácio de Alcir Pécora - Lançamento: 2024. Em uma época na qual nossos dados pessoais, assim como as múltiplas informações que compartilhamos nas redes sociais, tornam o anonimato algo praticamente impossível, chama a atenção o caso da biografia de B. Traven, pseudônimo de um romancista, supostamente alemão, cujo nome verdadeiro, nacionalidade, data e local de nascimento são todos imprecisos e sujeitos a disputa. O que se tem como razoavelmente certo é que Traven viveu durante anos no México, onde também se passa a maior parte de sua ficção – incluindo O tesouro de Sierra Madre (1927), cuja adaptação cinematográfica resultou em três Oscars. Sua obra de caráter panfletário, sobretudo O navio da morte , demonstra uma orientação anarquista e uma ferrenha crítica ao capitalismo. O navio da morte foi publicado originalmente em alemão em 1926 e em inglê

Maria Fernanda Elias Maglio - Você me espera para morrer?

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Maria Fernanda Elias Maglio - Você me espera para morrer? - Editora Patuá - 184 Páginas -  Capa e projeto gráfico: Anderson Bernardes - Lançamento: 2023. Maria Fernanda Elias Maglio faz a sua aguardada estreia na categoria romance depois das premiadas coletâneas de contos:  Enfim, imperatriz  (Prêmio Jabuti 2018) e  Quem tá vivo levanta a mão  (finalista dos prêmios Candango e Oceanos 2022). Em  Você me espera para morrer? , a autora nos surpreende com  a sua criatividade no tratamento da forma e conteúdo da narrativa, mantendo um  controle absoluto da linguagem que confere autenticidade à construção das personagens, neste caso as irmãs gêmeas Ilana e Aline, principalmente no período da infância, um dos exercícios mais difíceis na literatura e que foi explorado com muita sensibilidade no romance. A narrativa é conduzida alternadamente entre a primeira pessoa, na voz de Ilana em forma de carta para a irmã, e um narrador onisciente em terceira pessoa que descreve a trajetória das persona

Luiz Henrique Gurgel - Porque era ele, porque era eu e outras quase histórias

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Luiz Henrique Gurgel - Porque era ele, porque era eu e outras quase histórias - Editora Caravana - 98 Páginas - Capa e editoração eletrônica: Eduardo César Machado de Jesus - Lançamento: 2023. Luiz Henrique Gurgel nos apresenta alguns textos muito peculiares, nos quais não conseguimos identificar precisamente os limites entre as memórias do autor e a influência da ficção. Logo, uma primeira dificuldade para o resenhista – no seu irritante vício profissional de enquadrar as obras em gêneros predefinidos – é a de classificar este livro entre a crônica ou o conto e acabo marcando as duas opções. O tom memorialista é predominante na primeira e melhor das quatro partes temáticas nas quais a obra está dividida, ou seja:  Entre afetos , Perder-se nas cidades , Teimosias e Em sala de aula . Contudo, em todas as partes, seja na lembrança de um momento ou na descrição de uma cidade, os sentidos estão sempre presentes na forma de cheiros, sons e imagens. De fato, já na crônica de abertura, O che

Ádlei Carvalho - Céu de Luz Marina

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Ádlei Carvalho - Céu de Luz Marina - Editora Patuá - 180 Páginas - Capa e projeto gráfico: Carla Heloisa - Lançamento: 2023. O romance de Ádlei Carvalho tem como pano de fundo a antiga  fábrica de tecidos situada na Vila do Biribiri, nos arredores de Diamantina em Minas Gerais, que funcionou entre 1877 e 1973, utilizando, em sua maior parte, mão de obra feminina proveniente de um orfanato em Diamantina, portanto moças muito pobres, ingênuas e sem experiência. Por ser uma região isolada e distante dos centros urbanos, foi necessária a construção de uma vila composta, além dos galpões da fábrica, por um dormitório (chamado de convento), uma capela, 33 casas e um  armazém que mantinha uma relação de dependência e controle com os operários(as). O livro narra a comovente história de amor e resistência entre duas mulheres, ao longo da infância e adolescência, que precisaram vencer os abusos e o preconceito neste microcosmo que representava a sociedade patriarcal na época da Segunda Grande Gu

Francisco Rogido - Náufragos do Escolho

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Francisco Rogido - Náufragos do Escolho (Ou os 98 infernos possíveis, 63 takes, dois jogos de armar e algumas armas mortais) - Editora 7Letras - 196 Páginas - Capa e ilustrações: Lula Palomanes - Lançamento: 2023. O título desta coletânea de contos de Francisco Rogido é apropriado porque os personagens se assemelham realmente a náufragos, perdidos e perdedores na vida, ousando nascer no lugar e no momento errados; gente simples que sobrevive a cada novo dia e em todo lugar à nossa volta sem nem mesmo percebermos. Para esses homens e mulheres, resta apenas a teimosa persistência na busca de uma felicidade possível em meio à pobreza, violência e falta de perspectivas de um cotidiano digno nos grandes centros urbanos. Apesar de tudo, notamos os rastros de uma humanidade difusa que permeia todas as narrativas, afinal, "não há ninguém que não seja estranho a si mesmo", como nos lembra a epígrafe certeira ao citar Nietzsche. Esses traços de humanidade podem estar presentes nos prot

Genki Kawamura - Se os gatos desaparecessem do mundo

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Genki Kawamura - Se os gatos desaparecessem do mundo - Editora Bertrand Brasil - 176 Páginas - Tradução de Tomoko Gaudioso - Lançamento: 2024. Um solitário e jovem carteiro recebe o diagnóstico de uma doença em fase terminal com, no máximo, seis meses de vida, ou talvez até uma semana. Entretanto, pouco depois, vem o Diabo, usando uma camisa havaiana amarela, short e óculos escuros, apresentando uma inusitada proposta:  para cada coisa que ele estivesse disposto a fazer desaparecer do mundo, ganharia um dia extra de vida. Como bem sabemos, toda troca oferecida pelo maligno sempre esconde algum tipo de tapeação e o protagonista logo terá que enfrentar um grande dilema existencial. Este é o argumento do romance de estreia de Genki Kawamura,  traduzido para dezoito idiomas e com mais de dois milhões de cópias vendidas no mundo. A questão é que, ao longo de uma semana, as escolhas das coisas que deveriam desaparecer, aparentemente escolhas simples já que existem tantas coisas inúteis no mu

Soraya Jordão - Ciranda de Mamutes

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Soraya Jordão - Ciranda de Mamutes - Editora Patuá - 208 Páginas - Diagramação: Estúdio Encruzilhada - Lançamento: 2023. O romance de Soraya Jordão tem como base o cotidiano de uma família de classe média na convincente e divertida voz da protagonista  Amanda Júlia que sofre aos quinze anos, assim como suas amigas adolescentes, com a insatisfação com o próprio corpo e a ansiedade por persistir sendo uma BVL, ou seja, Boca Virgem de Língua. Seu pai, Olavo, tem uma postura machista e opressora, principalmente no que se refere à educação dos filhos, fazendo com que Saulo, o irmão caçula, precise atender às suas expectativas de masculinidade. Pilar, a mãe submissa, tenta equilibrar os anseios dos filhos com as demandas do marido, mas a revelação de um segredo do passado irá abalar a estrutura familiar e precipitar a perda da inocência. Com diálogos bem construídos e uma narrativa dinâmica, a autora prioriza as transformações da protagonista para tornar-se mulher, mas também alterna os pont

Anatole Jelihovschi - A morte e os seis mosqueteiros

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Anatole Jelihovschi - A morte e os seis mosqueteiros - Editora Jaguatirica - 152 Páginas - Segunda edição - Diagramação e capa: 54 design - Lançamento: 2017. Os efeitos da desigualdade social em nosso país são evidenciados pela divisão entre a cidade formal e as favelas no Rio de Janeiro, uma realidade que não pode ser ignorada. Após décadas de políticas públicas inadequadas, as comunidades carentes continuam a ocupar territórios cada vez mais densamente povoados e sem condições mínimas de infraestrutura, além da insegurança provocada pelos altos índices de criminalidade. O romance de Anatole Jelihovischi é ambientado neste cenário caótico, no qual a população local, esquecida pelo Estado, se torna refém e vítima constante da violência policial em nome do combate ao tráfico de drogas. A narrativa é conduzida em primeira pessoa por Zé pequeno que conta em retrospectiva a história de seis amigos que cresceram em uma favela do Rio de Janeiro, os seis mosqueteiros como eles costumavam se i

Maryse Condé - O fabuloso e triste destino de Ivan e Ivana

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Maryse Condé - O fabuloso e triste destino de Ivan e Ivana - Editora Record - Selo Rosa dos Tempos - 238 Páginas - Tradução de Natalia Borges Polesso - Prefácio de Djamila Ribeiro - Lançamento: 2024. A literatura de Maryse Condé tem uma forte orientação política, lidando com diferentes aspectos da diáspora negra e problemas contemporâneos, tais como: racismo, desigualdades sociais e econômicas, feminismo, migração e terrorismo. Nascida em Guadalupe, conjunto de ilhas no Caribe, considerado um departamento ultramarino da França, estudou em Paris, obtendo um doutorado em Literatura Comparada na Sorbonne e lecionando depois em várias universidades nos EUA, residiu também na Guiné Equatorial, na África. A sua obra reflete, portanto, uma visão globalizada das consequências de um pós-colonialismo que nega a hegemonia eurocêntrica como modelo civilizatório único, valorizando as contribuições culturais dos países periféricos. Este romance, lançado originalmente em 2017 – quando a autora compl